quarta-feira, 17 de novembro de 2010

[...]Naquele estado entre estar acordado e estar sonhando, me encontrei em um quarto.Não havia nada que chamasse a atenção exceto por uma parede coberta de arquivos de gaveta com fichas. Eles eram como aqueles de biblioteca que listam os livros por autor ou assunto em ordem alfabética.Mas estes eram arquivos, que iam do chão ao teto e pareciam não ter fim em cada lado, tinham cabeçalhos muito diferentes. Ao me aproximar da parede de arquivos, o primeiro a me chamar a atenção foi um intitulado “ Garotas de quem eu gostei.”. Eu o abri e comecei a passar o olho nas fichas. Rapidamente eu fechei a gaveta, chocado pelo fato de reconhecer os nomes que estavam escritos em cada ficha.

E então sem ninguém me contar, eu soube exatamente onde estava. Esse quarto sem vida com os seus pequenos arquivos era um sistema de catalogação da minha vida.Aqui estavam anotadas as ações de cada momento meu,grande ou pequeno,com um detalhe que minha memória não poderia igualar.

Fui tomada por uma sensação de admiração e curiosidade, acompanhada de horror, quando comecei a abrir arquivos aleatoriamente e explorar os seus conteúdos .Alguns me trouxeram alegrias e agradáveis memórias;outros uma sensação de vergonha e arrependimento tão intensa que até olhava por cima do ombro para ver se havia alguém observando. Um arquivo chamado “amigos” estava ao lado de um marcado “amigos que trai”.

Os títulos variavam de mundano até os mais esquisitos . “ Livros que li” “ mentiras que contei” “Conforto que ofereci”, “piadas que eu ri”.Alguns eram até hilariantes na sua exatidão “Coisas que gritei contra meu irmão”, “Coisas que murmurei contra os meus pais” . Eu sempre ficava surpreso pelo conteúdo . Freqüentemente havia muito mais fichas do que eu esperava. Algumas havia menos que eu desejava.

Fui esmagado pelo volume completo de vida que eu havia vivido. Haveria a possibilidade de eu ter tido o tempo nos meus vinte anos de escrever cada uma destas milhares, possivelmente milhões de fichas?Mais cada ficha confirmava, cada uma delas estava escrita com a minha própria caligrafia. Cada uma com assinada com a minha própria assinatura.

Quando eu abri o arquivo chamado “ Canções que ouvi” eu me dei conta de que os arquivos cresciam em profundidade para caber o seu conteúdo.As fichas estavam guardadas bem apertadas e ainda assim ao final de dois ou três metros, ainda não tinha chegado ao fundo da gaveta. Eu a fechei , envergonhado nem tanto pela qualidade da musica mais pela enorme quantidade de tempo que eu sabia que aquele arquivo representava.

Quando cheguei a um arquivo “Pensamento impuros” senti um frio correr pelo corpo. Abri o arquivo apenas uns dois centímetros, sem querer testar o seu tamanho.Arrepiei com o conteúdo detalhado . Me senti mal só de pensar que um momento como aquele tinha sido registrado.

De repente senti uma raiva quase animal. Um pensamento dominava a minha mente: “ Ninguém jamais deverá ver essas fichas! Ninguém jamais deverá ver este quarto. Tenho que destrocá-las” Com uma fúria insana puxei o arquivo para fora. O seu tamanho não importava agora. Eu tinha que esvaziá-lo e queimar as fichas. Mas ao pegar o arquivo numa ponta e batê-lo no chão, não consegui deslocar nenhuma fixa. Fiquei desesperado e tirei uma ficha apenas para descobrir que ela era forte como o aço quando tentei rasga-la.

Derrotado e absolutamente desamparado, guardei o arquivo no seu lugar. Apoiando a testa contra a parede, soltei um longo suspiro de autocomiseração. E então eu o vi. O título dizia : “ Pessoas a quem compartilhei o evangelho”, O puxador estava mais brilhante que aqueles ao seu redor, mais novo, quase sem uso. Eu puxei a gaveta e saiu na minha mão uma pequena caixa de no máximo oito centímetros de comprimento. Eu podia contar as fichas em uma mão.

E então vieram as lagrimas. Comecei a chorar. Os soluços eram tão profundo que a dor começava no estomago e me sacudia todo.Cai de juelhos e chorei. Gritei sem constrangimento, por causa da esmagadora vergonha de tudo aquilo.As fileiras de gaveta dos arquivos giravam em meus olhos cheios de lagrimas. Ninguém jamais deveria saber deste quarto. Eu devia trancá-lo e esconder a chave

Mas então , ao limpar as lagrimas, eu O vi. Não por favor, Ele não. Não neste lugar . Ô qualquer um , menos Jesus.

Eu assistia, sem poder fazer nada, enquanto ele começava a abrir os arquivos e ler as fichas . Eu não agüentava ver a Sua reação. E nos momentos em que consegui olhar na sua face, eu vi uma tristeza mais profundo do que a minha. Parecia que Ele intuitivamente ia para as piores caixas. Por que Ele tinha que ler cada uma delas?

Finalmente Ele se virou e me olhou lá do outro lado do quarto. Ele olhou para mim cheio de compaixão nos olhos. Ele se aproximou e colocou o Seu braço em volta de mim . Ele poderia ter dito tantas coisas. Mais não disse uma palavra . Apenas chorou comigo.

Depois ele se levantou e voltou para a parede de arquivos. Começando em uma ponta do quanto, ele tirou um arquivo e de um em um, começou a assinar o Seu nome em cima do meu em cada cartão.

“Não” eu gritei, correndo em sua direção. Tudo que consegui dizer foi : “ não, não “ enquanto tirava a ficha sua mão . O nome Dele não deveria estar nestas fichas. Mais lá estava ele, escrito em vermelho tão rico , tão escuto , tão vivo. O nome de Jesus cobria o meu , Estava escrito com sangue.

Ele delicadamente pegou a ficha de volta. Ele sorriu um sorriso triste continou a assinar as fichas. Acho que jamais compreenderei como Ele o fez tão rapidamente , mais no próximo instante parecia que Ele fechava o ultimo arquivo e voltava para o meu lado . Ele colocou a sua mão no meu ombro e disse : “Está consumado”.

Me levantei, e Ele me guiou para fora do quarto. Não havia tranca na porta . Ainda havia fichas a serem preenchidas . [...]

texto retirado do livro "Eu disse adeus ao namoro. Joshua Harris."


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Caio Fernando Abreu .

Não, não ofereço perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro, definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto - se tomada com cuidado, verto água límpida sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto, mas se tocada por dedos bruscos num segundo me estilhaço em cacos, me esfarelo em poeira dourada. Tenho pensado se não guardarei indisfarçáveis remendos das muitas quedas, dos muitos toques, embora sempre os tenha evitado aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia, e mesmo assim insisto - meus gestos e palavras são magrinhos como eu, e tão morenos que, esboçados à sombra, mal se destacam do escuro, quase imperceptível me movo, meus passos são inaudíveis feito pisasse sempre sobre tapetes, impressentida, mãos tão leves que uma carícia minha, se porventura a fizesse, seria mais branda que a brisa da tardezinha.

Caio Fernando Abreu .

"E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrario: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda"

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Penso, logo vejo bons filmes.





Tive a oportunidade de assistir este filme , que diga-se de passagem é SENSACIONAL ...
O nome " Uma prova de amor" nos faz ligar com algum romance chato , meloso e sem história o que de fato não é verdade...O Filme conta a história de Kate que tem Leucemia , para que ela possa sobreviver a mãe Sara, cria um bebê de proveta genéticamente compatível com Kate.
Anna nasce e desde bebê passa a doar sangue, medula óssea e células para a irmã mais velha. Só que o quadro clínico de Kate não melhora, e a única chance de uma possível recuperação é a doação de um rim.A estas alturas, Anna é uma adolescente de 11 anos e se encheu de todo esse processo cirúrgico, então decide ter uma vida normal; ama a irmã, mas quer ter controle do próprio corpo. Procura o advogado Campbell Alexander e resolve iniciar um processo contra seus pais, pedindo uma “emancipação médica”.
O final? assista UMA PROVA DE AMOR, emoção do começo ao fim !